Ana Paula Venturini Bandeira
RESUMO
Este artigo traz um relato sobre a história do Alpinismo Industrial no mundo e no Brasil. As técnicas usadas tiveram início nos Estados Unidos na década de 30 e são utilizadas em vários segmentos como técnica opcional de trabalho em altura, principalmente para trabalhos em locais de difícil acesso, que demandam agilidade e pouco tempo de execução, além de apresentar custos mais baixos. As técnicas de acesso por corda atualmente são regulamentadas no Brasil de acordo com as normas NBR 15475, NBR 15595 e NR 35. Os profissionais de acesso por corda são qualificados e certificados por entidades homologadas pelo INMETRO. Atualmente, sob uma visão holística do processo, outro termo usado para definir o Alpinismo Industrial é Engenharia de Acesso. Este termo é mais amplo, pois não basta somente executar a atividade, é necessário avaliar a técnica mais adequada, mais segura com menor exposição do profissional aos riscos inerentes às atividades.
Palavras-chave: Alpinismo Industrial. Acesso por Corda. Engenharia de Acesso.
Introdução
A cada dia existe uma maior necessidade de solucionar problemas relacionados a atividades de trabalho, seja na área urbana ou industrial, assim como siderurgia e mineração. Muitas atividades são de risco, e colocam em jogo a vida dos profissionais que direta ou indiretamente estão ligados a ela.
Em atividades que envolvam altura, muitas são as técnicas usadas para acesso aos locais onde as tarefas precisam ser executadas. Uma das atividades que vem crescendo desde a década de1930 é o Alpinismo Industrial. Essa técnica tem como origem o acesso por corda que surgiu na década de 30 nos Estados Unidos e vem sendo desenvolvido e aprimorado no Brasil e no mundo desde então.
Apesar do nome, o Alpinismo Industrial não está relacionado somente às técnicas de alpinismo de montanha. E nos tempos atuais, existe uma visão mais abrangente que associa o Know-how dos engenheiros e profissionais de acesso por corda à escolha da técnica que reduza à exposição ao risco do profissional que executa a atividade.
Este artigo traz informações sobre o desenvolvimento das técnicas de Alpinismo Industrial e mostra sua evolução ao longo do tempo, sua importância para a solução de problemas envolvendo altura, dificuldade de acesso e complexidade na execução e análise dos riscos envolvidos, com soluções econômicas e viáveis em diversas áreas.
Desenvolvimento
No mundo, o Alpinismo Industrial teve seus primeiros registros na década de 30 na construção da represa de Hoover, situada no Rio Colorado, entre os estados de Nevada e Arizona. Os mineradores executavam as atividades de estabilização das paredes do desfiladeiro onde seria construída a represa e ficavam ancorados em uma única linha de vida. Durante essa atividade, os mineradores ascendiam com os equipamentos a serem utilizados e devido à segurança precária, essa atividade resultou em muitas vítimas (OLIVEIRA, et All, 2020).
O final da década de 70 marcou a utilização das técnicas de alpinismo na área urbana e industrial na França e Inglaterra, em atividades como estabilização de encostas e desprendimento de trechos de fachadas externas de prédios. Em meados de 1980, as técnicas de alpinismo industrial foram sendo aprimoradas até chegar ao que temos atualmente, e se basearam em um sistema desenvolvido pela espeleologia do final dos anos 60, com a adição de uma segunda corda de segurança, para que o sistema tivesse dois níveis de redundância, tornando-o adequado aos trabalhos em altura (SAMPAIO FILHO, 2012).
Segundo Hacker (2018), em 1987 a união de seis empresas inglesas, apoiadas pelo Governo Britânico e através do Health and Safety Executive – HSE, deu origem Rope Access Trade que originou o International Rope Access Trade Association – IRATA a fim de manter padrões operacionais e de segurança para as técnicas de acesso por cordas. Com a utilização cada vez mais crescente o governo inglês estabeleceu norma de acesso por corda (BS 7985) e outros países, como França, Alemanha, Austrália, Nova Zelândia, Romênia, Canadá, Noruega, África do Sul e EUA criaram organizações de padronização das técnicas, a partir de 1990.
A história do acesso por corda no Brasil se dá desde o final de 1993, sendo intensificado, em 1994, com a exploração e produção de petróleo e se encontra em constante evolução há mais de 25 anos. Porém a certificação brasileira foi criada somente em 2007, com a fundação da ANEAC – Associação Nacional das Empresas de Acesso por Corda, logo após a implantação das duas normas técnicas brasileiras acesso por corda pela ABNT, a NBR-15475 – Acesso por Corda – Qualificação e Certificação de pessoas e a NBR-15595 – Acesso por Corda – Procedimento para aplicação do método. Além dessas normas temos também a norma regulamentadora NR35 publicada em 2012 pelo Ministério do Trabalho que regulamenta o Trabalho em Altura em um contexto mais abrangente.
As principais organizações de acesso por corda no Brasil e no mundo são:
Sigla |
Descrição |
Origem |
ANEAC |
Associação Nacional de Acesso por Corda |
Brasil |
ANETVA |
Asociacion Nacional de Empresas de Trabjos Verticales y em Altura |
Espanha |
FISAT e.V |
Fach- und Interessenverband für seilunterstützte Arbeitstechniken e.V. |
Alemanha |
IRAA |
Industrial Rope Access Association |
Austrália |
IRATA |
Industrial Rope Access and Trade Associatio |
País de Gales |
SPRAT |
Society of Professional Rope Access Technicians |
USA |
SOFT |
Norway Industrial Rope Access Association |
Noruega |
SAIRAA |
South African Industrial Rope Access |
África do Sul |
SNETAC |
Association Syndicat National des Entreprises de Travaux d’Accès Difficiles |
França |
SAMPAIO FILHO (2007), adaptado pelo autor.
Um profissional de acesso por corda deve ter uma certificação por um órgão acreditado pelo INMETRO. A ANEAC, em conformidade com a ISO17024:2004, homologa Centros de Treinamento no Brasil e certifica profissionais em acesso por corda conforme as exigências descritas no item 5 da NBR 15475:2015, a seguir:
“5.1 Nível 1
5.1.1 Profissional com qualificação básica, que possui habilidades para trabalhar com segurança dentro de uma variedade de sistemas empregados em acesso por corda, sob a supervisão de um nível 2 ou nível 3.
5.2 Nível 2
5.2.1 Profissional com qualificação intermediária, que além das habilidades do nível 1, deve possuir habilidades necessárias para planejar e supervisionar somente trabalhos verticais simples de acesso por corda em ambientes urbanos, e trabalhos complexos sob a supervisão remota ou direta de um profissional nível 3.
5.3 Nível 3
5.3.1 Uma pessoa certificada para o nível 3 deve ser capaz de assumir total responsabilidade por projetos de acesso por corda.
5.3.2 Uma pessoa certificada para o nível 3 de acesso por corda deve: a) ser capaz de assumir responsabilidade por planejamento e execução de trabalhos de acesso por corda; b) possuir experiência em técnicas de trabalho por acesso por corda e conhecimentos sobre análise de risco e legislação; c) possuir domínio de técnicas de resgate por acesso por corda inerente à atividade; d) possuir treinamento de primeiros socorros.”
As técnicas em acesso por cordas podem ser usadas em atividades de vários segmentos, como montagem de estruturas, inspeção e ensaios de estruturas, ensaios não-destrutivos, espaços confinados, construção civil, elétrica e mecânica, atividades de reparo, manutenção, pintura e limpeza, instalações em geral, engenharia Geotécnica, instalação e inspeção de linhas de vida, içamento de cargas, resgate entre outras.
Fatores de caráter técnico e econômico levaram à crescente expansão do uso desta técnica na indústria. Entre eles pode-se citar: redução de acidentes, maior controle e gerenciamento de risco, redução de custo e tempo para a execução e aumento de produtividade em trabalhos considerados críticos e de difícil acesso, inspeções internas e externas de equipamentos. Deve ficar claro que o acesso por cordas não elimina o uso de outras técnicas de acesso, porém o uso de equipamentos específicos e cordas para acesso proporciona maior mobilidade e facilita o deslocamento do profissional que executa a atividade entre pontos de difícil acesso.
Desde a década de 2000, o acesso por cordas, passou a ser uma exigência para os trabalhos na indústria brasileira e plataformas de petróleo, culminando em um segmento, que hoje Sampaio Filho (2012) denomina como Engenharia de Acesso. Para ele a Engenharia de Acesso corresponde a todo serviço que envolva risco na execução ou dificuldade de acesso. Essa atividade envolve equipamentos de ascensão e descenção para atividades em altura, resgate e espaço confinado. Não basta ser apenas um profissional de acesso por corda, é necessário que o profissional responsável tenha uma visão holística do processo.
Se nos reportarmos às ferramentas de qualidade pode-se dizer que a Engenharia de Acesso se assemelha à ferramenta FLPS – Fronting Loding Problem Solving (Antecipação na Resolução de Problemas) (BANDEIRA, 2003), pois antes da execução de uma atividade são analisados os riscos, as melhores técnicas de acesso, a gestão dos equipamentos envolvidos, o tipo de qualificação do profissional adequado à execução, antes mesmo da atividade ser iniciada, a fim de que prevaleça a segurança e a integridade física do trabalhador, propondo soluções que atendendam a legislação e normas vigentes. A FLPS é, portanto, uma ferramenta adequada, não somente à qualidade, mas a todos os setores da Engenharia.
Conclusão
Por meio desse estudo pode-se considerar que essas técnicas têm auxiliado tanto as empresas quanto os profissionais que precisam dar soluções e preservar a saúde dos trabalhadores. É um estudo preliminar que traz um breve histórico dessas técnicas, considerando as principais fontes de informação existentes na bibliografia.
Este artigo mostra como o Alpinismo Industrial cresceu ao longo dos anos e suas vantagens. Traz também uma evolução da técnica para diversas áreas da Engenharia, principalmente para a Engenharia de Segurança, com a visão holística do processo.
Vale ressaltar que questões organizacionais e gerenciais são a raiz das análises e, as decisões dependem de experiência e conhecimento das técnicas de segurança e serviços em altura, sendo possível aplicação de conhecimentos de engenharia e qualidade referentes a atividades específicas.
REFERÊNCIAS
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 15595: acesso por corda – Procedimento para aplicação do método. Rio de Janeiro: ABNT, 2008.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 15475: certificação e capacitação de profissionais de Acesso por Corda. Rio de Janeiro: ABNT, 2013.
BANDEIRA, Ana Paula Venturini. Aplicação do Ecodesign em Empresa Mineira e a Percepção dos Funcionários: Um Estudo de Caso. Dissertação de mestrado em Engenharia de Produção. UFMG, Belo Horizonte, Minas Gerais, 2003. Disponível em: < https://repositorio.ufmg.br/browse?type=author&value=Ana+Paula+ Venturini+Bandeira >. Acesso em Dez 2021
BRASIL. MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO. Secretaria de Inspeção do Trabalho. Departamento de Segurança e Saúde no Trabalho. NR -35: trabalho em altura comentada. Brasília: SIT/DSST, 2013.
BRASIL. MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO. Norma regulamentadora n. 35 – NR35: trabalho em altura, 2014a. Disponível em: < http://portal.mte.gov.br/seguranca-esaude-no-trabalho/normatizacao/normas-regulamentadoras/norma-regulamentadora-n-35- trabalho-em-altura>. Acesso em Dez. 2021.
CAMPOS, Elmer. Tudo sobre alpinismo industrial. 2019. Disponível em: https://ctank.com.br/tudo-sobre-alpinismo-industrial/>. Acesso em: Dez 2021.
HACKER, Natalia Laubmeyer Alves. Saúde e trabalho de risco: sentidos da atividade no alpinismo industrial. 2018. 129 f. Dissertação (Mestrado em Saúde Pública) – Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca, Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, 2018. Disponível em: https://www.arca.fiocruz.br/handle/icict/27005. Acesso em: Nov. 2021.
OLIVEIRA, Aline Alves, at. All. Inspeção de manifestações patológicas em fachadas utilizando aeronaves remotamente pilotadas. São Paulo 2020
SAMPAIO-FILHO, R. O. S. Uma Abordagem prática da utilização da técnica de acesso por corda pelos integrantes do serviço próprio de inspeção de equipamentos. 9a. COTEQ – Conferência Internacional sobre Tecnologia de Equipamentos, Salvador-BA, junho, 2007.
SAMPAIO-FILHO, R. O. S. Inspeção de equipamentos e tubulações utilizando a técnica de acesso por corda. XXX – Congresso Nacional de Ensaios Não Destrutivos e Inspeção, São Paulo, 2012.
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SILVA, Cesar Albertoni. Disponível em: < https://caesarvertical.com.br >. Acesso em: Nov. 2020.